OS MÉDICOS - DISCÍPULOS DE HIPÓCRATES?

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Ontem (18 de Outubro) foi dia dedicado aos médicos, e me senti na obrigação de fazer esse registro.

No mundo conturbado em que vivemos, a presença e assistência dos profissionais da saúde é mais do que bem-vinda - é FUNDAMENTAL, para a manutenção, em níveis toleráveis, do sofrimento humano, ainda que dita assistência seja dão desigual, mundo afora.

Assim, parabenizar os profissionais que se esmeram em atender, que são devotados à causa da vida, é indispensável, natural, merecido.

Posto esse introito, me sinto igualmente na obrigação de trazer a lume algumas considerações sobre essa profissão, que reputam uma das mais nobres que há. Não desdigo isso.

Fui, nada obstante, conferir fundamentos da nobre atividade e, para começar, me detive analisando o tão decantado "juramento de Hipócrates", que se diz recitarem, nas formaturas dos "doutores" (interessante isso, tão nosso, tão brasileiro, tão terceiro-mundista! Lá fora só recebe grau de doutor quem faz doutorado, sejam médicos, engenheiros, psicólogos ou advogados!).

Pois bem, fui de surpresa em surpresa, ao saber que aquele antigo compromisso, desde seu nascedouro, na Grécia antiga, provavelmente lá pelo século V a.C., originalmente tendo como compromissários deuses da mitologia daquele período, tinha contornos algo distantes do que a Associação Médica Mundial. Senão, vejamos...

O juramento original (que naturalmente precisava ser atualizado, óbvio, não estamos mais diante das divindades gregas!) assim postula: 

"Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.

A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Dentre alguns detalhezinhos singelos, alí pelo quarto parágrafo o texto dita que não se dará "...remédio mortal... não darei... nem substância abortiva... Ok, dados os tempos atuais, isso precisava ser eliminado, não concordo, mas entendo a tal AMM. 

Outros detalhes há, mas me prendi somente a esse, acima. Agora vejamos o juramento vigente, atualizado em 2017: 

"EU PROMETO SOLENEMENTE consagrar minha vida ao serviço da humanidade;

- A SAÚDE E O BEM-ESTAR DE MEU PACIENTE serão as minhas primeiras preocupações;

- RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu paciente;

- GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana;

- NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e meu paciente;

- RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte do paciente;

- EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas práticas médicas;

- FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica;

.........................................................

FAÇO ESTAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de honra.

A primeira sentença do novo juramento me preocupa UM POUCO, quando me deparo com profissionais médicos que são melhores pecuaristas do que médicos. Não tenho nada contra a maneira como os profissionais "de branco" dispendem seus recursos, mas atenção aos pacientes deveria estar em primeiro lugar. Ao contrário, é corriqueiro se saber de "doutores" (essa rotulação me incomoda!) que dispensam pacientes, em benefício de suas clínicas e negócios particulares - onde fica a vida dedicada?

Não entendo muito bem de porque o terceiro e o sétimo termo do tal juramento me fazem pensar de modo obsessivo no Dr. Abdelmassih!!!!!!

"Fomentarei a honra e as nobres tradições... " Mas como assim? Marcando ponto e sumindo no mundo? Entrando no plantão e deixando-o a meio? 

Posso estar enganado, senhoras e senhores, mas me parece que os compromitentes modernos desses juramentos nem sequer pensam no que estão prometendo, diante do céu.

Aí...deveriam se preocupar com o final do antigo compromisso: "...o contrário aconteça."

Saudações aos profissionais médicos que atuam com seriedade e competência (lembro aqui dos Médicos Sem Fronteiras, e de mais uns tres ou quatro muito sérios, que conheci pessoalmente, e na atividade). Aos que fazem da profissão trampolim para a riqueza pura e simples e o fisiologismo... atentem para o que jurararm! Podem estar se arriscando às maldições por trás da escrita!!!

Juramento de Hipócrates, ou juramento dos hipócritas...

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