Recentemente
fui convidado a participar de um festival comemorativo de data
importante, numa cidade dessas milhares que temos no chão
brasileiro.
O espetáculo
começando, com representações belas, crianças dançarinas,
criatividade... belas performances, preciso pontuar.
Em meio às fileiras
de poltronas do anfiteatro lotado, pelos corredores, o que temos? Um
simpático cãozinho, um vira-latas , com coleira, aparentemente bem
cuidado, corria de lá para cá, se sujeitando aqui e acolá aos
flashes de algumas cameras fotográficas, eventualmente se
assustando, talvez imaginando a razão de tanta gente em derredor, e
que nada obstante, nem lhe faziam um afago...
Ao notar a presença
de nosso "convidado" de quatro patas, não pude deixar de
imaginar o descuido com que algumas pessoas tratam seus animais de
estimação - certamente ele fora alí atrás do cheiro de seu/sua
dono/dona, e agora se vê em meio ao tumulto do show (lembrem-se, ele
portava coleira). Mas não me causou maior estranheza. Só isso.
Bem... pouco depois
me levantei, para tomar um pouco de ar e, no saguão do prédio,
encontro à entrada... quem??? Nada mais, nada menos que o canino
visitante, se preparando novamente para entrar no recinto.
Ingenuamente pretendi manter o animal de fora, tangendo-o (antes que
enxotando) com palavras baixas e sinais de mão. Ingenuamente, eu
dissera...
Você, moça bela da
camiseta amarela (faco essa menção porque você não quis se
identificar para mim), me repreendeu. Talvez porque pouco antes,
segundo teu relato, alguém usara de crueldade, ao expulsar o animal.
Mas eu não era essa pessoa. E tampouco usei de crueldade. Só
entendi que o lugar não seria adequado para um animal - como não
seria igualmente para uma serpente, um urubu, ou uma onça pintada...
aquele cãozinho estava fora de contexto, tanto quanto esses outros
espécimes estariam.
E você, sem
titubear, sequer considerando minha idade algo superior à tua, não
deixou barato. De forma voluntariosa, que alguns chamariam agressiva,
fez-me ver o meu lugar, que sem dúvida não era alí - "não
sei quem é o Sr., mas não sei o que está fazendo aqui, vá para
tal lugar..." De nada adiantou minha ponderação tranquila que
o ponto não era exatamente O CÃO, mas a circunstância.
Cumpri meu papel no
evento, me retirei, e vim pensando em você.
Em você e nos
milhões de jovens de idade pouco diferente da tua, para cima ou para
baixo, que estão crescendo e evoluindo num mundo tão surpreendente,
tão cheio de recursos e liberdade!!!!
Num mundo em que as
liberdades são relativas, em que o que importa é o que "eu
penso" e "os outros que se 'efem'". Num mundo em que
tudo é tão rápido ao nosso redor que até pensamos que estamos
evoluindo!
Vocês estão sendo
apresentados à maturidade muito rápido, e muitos sensos de valor
estão sendo atropelados. Então, na verdade é o tempo que está
passando rápido, não somos nós que estamos evoluindo - a
representar "Roda Viva" (Chico Buarque, 1967 - você nem
era nascida, e o poeta já falava dessas loucuras do tempo passando
por nós!!!!).
Ao invés de você
me inquirir com urbanidade, preferiu o discurso do enfrentamento. Ao
invés de mostrar com serenidade teu ponto de vista, preferiu ser
agressiva (e olha que eu nem gritei com o animal, nem o agredi!!!
Imagina!). E você sequer me conhecia... imagino o que faça por
exemplo à tua mãe, que tão prontamente entrou em cena para te
"defender" (contra o que, não sei...).
Não minha senhora,
não quis colocar nenhum rótulo na tua bela filha. Até porque ela
não é culpada de nada - é vítima desse mundo insano, em que
bichos valem tanto, mas tanto, que se briga por eles (está
certíssimo, mas tua filha não pôde nem poderia ver minhas lágrimas
ao testemunhar um animal agonizante, também não leu de minhas
crônicas em que repugno maus tratos aos animais). Tua filha,
querida, aprendeu a lição do "bateu, levou", ainda que eu
nem tivesse "batido". Não levantei a voz uma vez sequer,
mas fizeram isso contra mim. Não ameaçei ninguém, mas me
ameaçaram -"se o Sr. colocar minha filha no seu blog, vai
pagar por isso!(sic)".
Com animais não
entendem algumas posturas nossas, o dito cujo cãozinho pouco depois
estava novamente lá dentro, todo faceiro. Eu? Não me importo.
Continuo achando que há locais e locais, e que nossa leniência com
a desordem nos tem encaminhado a precipícios sociais perigosos.
Alguém pode dizer
que essa é a maneira brasileira de ser ("vá para Hollywood!"
foi a recomendação que ouvi...), mas o que eu vejo na verdade é
pobreza. Pobreza social, pobreza cultural, pobreza de padrões de
cultura e civilismo.
O cachorrinho? Não
tem nada a ver com isso. Queria ver como você, moça bela da
camiseta amarela, iria lidar com uma serpente de jardim, inofensiva,
uma falsa coral, passeando por aqueles arredores.
Duvido que me
trataria com tamanho desdém.
Em tempo, não
confunda correção do que se faz com propriedade em fazê-lo.
Outra coisa, me identifiquei, porque não tenho porque me ocultar.
Quando podemos defender nossos pontos de vista, não precisamos nos
ocultar.
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